O problema crônico com aquelas pequenas películas de milho, que invadem residências e empresas, volta a acontecer com frequência nesta época do ano em Campo Verde e elas incomodam muito tanto a população que reside nas proximidades das secadoras, quanto às empresas que por um motivo ou outro, tem as atividades comprometidas devido a isso.
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Por ser um problema que acontece todos os anos, a pasta de meio ambiente do município nesta época já realiza um trabalho frequente de fiscalização nestas empresas, para saber se estão usando os filtros recomendados e realizando as mudanças necessárias para que a emissão seja amenizada. E pelo que foi constatado por nossa reportagem esse investimento nos últimos anos vem acontecendo de forma crescente, mas o controle é muito complicado.
Segundo nos explicou o supervisor de Meio Ambiente da SEDAM, Edson Silva Castro, “ontem mesmo nós estávamos realizando fiscalização nestas empresas e temos uma agenda de visita em todas do mesmo ramo no município, a BRF, BUNGE, COFCO, OVETRIL, enfim todas elas. Sabemos que estas películas nessa época do ano causam problemas sérios, as empresas adotaram um sistema de controle de emissões destas partículas, mas em Campo Verde venta demais e o milho vem muito seco da lavoura, quando o caminhoneiro vai desenlonar o caminhão já ocorre uma dispersão muito grande destas partículas, após isso quando ele vai descarregar na moega, que está vazia, essas películas que são muito leves acabam ficando no fundo do caminhão a 8 metros, quando eles descarregam elas acabam subindo e vento leva. Tem empresas da região central que investiram muito neste sistema, dentro dos barracões existem exaustores que jogam essa película diretamente para fornalha, não gerando a dispersão de nenhuma partícula dentro dos armazéns, o problema é realmente externo.”
Tem empresas no município que até chegaram a fechar as descargas dos caminhões e mesmo assim ainda existem reclamações nas redondezas. Mas a fiscalização está trabalhando firmemente para garantir que o problema seja amenizado. Em 2017 o número de reclamações apensar de ainda ser alto, não representam nem a metade do que foi registrado no ano passado, sinal de que as mudanças surtiram efeitos.
Nossa reportagem visitou a empresa RIC Têxtil, que todos os dias nessa época do ano sofre com a dispersão de películas, mesmo com os barracões fechados, as máquinas da empresa que são muito sensíveis, chegaram a ser paralisadas por algumas vezes devido a essa chuva de partículas que acontecem diariamente. “Nossas maquinas são automatizadas e muito sensíveis, se cair uma partícula destas em nossas esteiras elas já paralisam a produção na hora e infelizmente isso vem ocorrendo com frequência, nos arredores da empresa vocês podem constatar a quantidade dessas partículas presentes, nosso gerador de energia tem de ser limpo diariamente, pois se não fizermos corremos o risco dele não funcionar no momento que necessitarmos,” relatou Gilson, o proprietário da empresa.
Nas residências das redondezas dos armazéns e até no centro da cidade as reclamações também são frequentes, pois as películas se espalham com facilidade e inundam as calçadas e varandas, além do problema da limpeza ainda existe os problemas de saúde que podem ser causados pelo excesso dessa poeira de grãos.
Pesquisa publicada no site da USP
Uma pesquisa com 590 pessoas que sofrem de asma e rinite e que convivem com a inalação de poeira de grãos mostrou que 5% têm as alergias respiratórias desencadeadas somente por essa poluição. A conclusão é do médico Rodolpho José de Carvalho Pinto, em seu doutorado, defendido na Faculdade de Medicina (FM) da USP. "Esses 5% poderiam não ter essas alergias com tratamento e prevenção adequados", explica o médico.
A pesquisa teve a orientação do professor Júlio Croce, da FM, e procurou avaliar a sensibilização causada pela poeira em pessoas com asma e rinite alérgica, ou seja, quantas pessoas tinham as crises alérgicas desencadeadas pela poeira do grão.
"Analisamos 340 pessoas no meio rural e 250 no meio urbano, que fizeram testes alérgicos e coleta de sangue", conta o médico. Os voluntários foram selecionados em quatro cidades: Iporá, Montividiu e Bom Jesus (rodeadas por plantações do grão, em Goiás), e Mairinque, cidade do interior de São Paulo onde está instalada a refinaria de óleo de soja da Cargill. "A poeira desse grão é composta de muitas proteínas", explica o médico. "Ela fica debaixo da casca, sendo dissipada com a manipulação e armazenamento. Nessas cidades com lavouras e fábricas que lidam com a soja, a sensibilização é maior."
Sensibilização
Os resultados indicaram que 22% das pessoas do meio urbano com asma e rinite apresentaram teste alérgico positivo à poeira de soja. No meio rural, o número foi de 28%.
Em outra análise, feita na cidade de Mairinque, as pessoas que moravam mais próximas à fábrica da Cargill mostraram-se mais sensibilizadas em relação às que moravam distantes do local. Apesar disso, os cerca de 100 caminhoneiros analisados, que trabalham para essa indústria no transporte da soja, apresentaram a mesma taxa do meio urbano (22%).
Esse valor caiu para 15% em cerca de 70 funcionários da fábrica. "A porcentagem mais baixa de sensibilização pela poeira, apesar do maior contato com o grão por parte dos trabalhadores, talvez seja devida aos equipamentos de proteção e ao fato de o grão estar cozido, diminuindo a quantidade de poeira e inativando as substâncias alergênicas" esclarece o médico.
Os resultados mais altos foram encontrados na cidade de Bom Jesus, em Goiás. Para o pesquisador, a taxa de 33% de sensibilização pode acontecer pela maior concentração do material na atmosfera, devido aos muitos anos de lavoura na região. "Quanto maior o tempo e a quantidade de exposição à poeira de soja, maiores são os sintomas e a sensibilização", explica.
O médico ressalta que quando começou a pesquisa, há quatro anos, ainda não havia lavoura de soja e milho transgênicos no Brasil. "A soja transgênica possui alterações nas proteínas que a constituem e que são responsáveis pela sensibilização. Não se sabe até que ponto a alteração em seu espectro protéico pode modificar ou até aumentar esse efeito."