Depois do caso de um idoso, de identidade não revelada, que foi internado na Unidade de Terapia Intensiva - UTI do Hospital Regional de Rondonópolis, após ter sido picado por uma cobra jararaca, a falta de soro antiofídico na cidade voltou a ser discutida.
O acidente aconteceu em um assentamento, próximo da cidade de Campo Verde, quando o idoso não percebeu o animal que estava em um pé de bananeira. A vítima precisou ser rapidamente encaminhada para o Hospital Regional de Rondonópolis, distante 138 km de Campo Verde. Até o fechamento desta reportagem, o estado de saúde do idoso era considerado grave, porém, ele estava consciente.
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No início do mês, conforme noticiado pela mídia, uma mulher, de 29 anos, morreu em decorrência da picada de cobra jararaca, na zona rural de Vila Rica.
Campo Verde, há bastante tempo está entre os municípios com maior incidência de picadas de cobras, não somente do estado, mas de todo o Brasil. No ano de 2020 foram registrados 27 casos, em 2021 até o mês de maio foram 13 casos, segundo os dados da Secretaria Municipal de Saúde.
A diretora da Vigilância Epidemiológica da cidade, a enfermeira Patrícia Alcântara, explicou que em Campo Verde, assim como nos demais municípios de Mato Grosso e também do Brasil, o soro antiofídico não fica à disposição dos municípios, somente nas regionais, no caso de Campo Verde, o paciente que precise do soro será levado para Rondonópolis ou Cuiabá.
“Isso acontece porque o soro antiofídico está em falta no pais há bastante tempo, somente o Ministério da Saúde tem o controle da produção e distribuição dos soros, não existe soro a disposição para venda, nem mesmo para os municípios”, explicou Patrícia.
A explicação sobre o grande número de acidentes com cobras, se deve principalmente ao grande número de moradores nas zonas rurais da cidade, que possui vários assentamentos populosos. Estima-se que 200 famílias residam apenas no Dom Osório.
Outro fator é a grande incidência de cobras na região, principalmente as jararacas, responsáveis por mais de 70% dos acidentes registrados. “Essas serpentes se escondem facilmente na folhagem, no chão, quando se sentem ameaçadas atacam, por isso é tão importante utilizar os EPI’s quando estiverem circulando nas propriedades ”, recomentou a enfermeira.
No caso de acidentes com cobras, a vítima precisa ser conduzida quanto antes ao hospital de referência para atendimento de acidentes ofídicos mais próximo. Ser atendido no menor tempo possível é crucial para o êxito do tratamento.
MAIS POR QUÊ FALTA SORO?
Nossa equipe de reportagem entrou em contato com a Secretaria Estadual de Saúde para saber quantas ampolas de soro Mato Grosso recebeu este ano. Porém até o fechamento desta reportagem, não obtivemos resposta.
Entramos também em contato com as empresas responsáveis pela fabricação do Soro Antiofídico no Brasil, a única resposta que recebemos, foi do Instituto Vital Brazil (IVB), que informou que a área de envase de ampolas de soros da unidade está em obras para readequação, de acordo com exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). E que a produção do Instituto deverá voltar à normalidade assim que as obras forem concluídas e os ambientes validados pela agência. Em nota o Instituto ressaltou ainda que O Vital Brazil possui condições para a reprogramação da produção e entrega de novos lotes de soro assim que as obras forem concluídas.
As reformas nos Institutos são apontadas como principal causa da escassez dos imunizantes. A dificuldade no envio das ampolas começou em 2017 quando os institutos Butantan (São Paulo) e Vital Brazil (Niterói-RJ), dois dos produtores de imunizantes espalhados pelo Brasil, entraram em reforma para se adequar a um conjunto de medidas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), conhecido como Boas Práticas de Fabricação. Após a finalização das obras nas estruturas, foi a vez de outros dois centros passarem pelas adaptações: a Fundação Ezequiel Dias (Funed), situada no Bairro Gameleira, na Região Oeste de Belo Horizonte, e o Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos (CPPI), no Paraná. Ou seja, desde então os 27 estados da federação não recebem regularmente os soros.
Todas as alterações pelas quais os institutos produtores de soros precisam passar estão previstas nas resoluções 16 e 17, ambas de 2010, publicadas pela Anvisa. Os documentos dispõem sobre o padrão de qualidade adequado para a fabricação de medicamentos de uso humano.