A morte da policial penal, Luciene Pedrosa Moreira Santos de 44 anos, em consequência de um acidente com serpente na zona rural de Campo Verde, trouxe a tona um problema antigo, que já causou pelo menos três mortes nos últimos oito anos em Campo Verde, além muitas internações e pessoas que ficaram inclusive com sequelas devido a esses acidentes.
Campo Verde há bastante tempo está entre os municípios de maior incidência de picadas de cobras não somente do estado mais de todo o Brasil, se comparado ao número de habitantes. No ano de 2020 foram registrados 27 casos, em 2021 também foram 27 registros de casos segundo os dados da Secretaria de Saúde do Município.
A enfermeira Patrícia Alcântara, da Vigilância Epidemiológica da cidade, explicou que assim como os demais municípios de Mato Grosso e também do Brasil, o soro antiofídico não fica a disposição nos municípios, somente nas regionais, no caso de Campo Verde em Rondonópolis ou Cuiabá.
“Isso acontece por que o soro antiofídico está em falta no pais há bastante tempo, desde 2013, somente o Ministério da Saúde tem o controle da produção e distribuição dos soros, não existe soro a disposição para venda, nem mesmo para os municípios”, explicou Patrícia.
Segundo as informações devido a incidência, a administração municipal está constantemente pedindo a Secretária de Saúde do Estado (SES-MT) que mantenha alguns frascos de soro nas unidades hospitalares do município, que geralmente recebem mais pacientes picados por serpentes, porém, devido a política da pasta, de manter nas regionais, o pedido não é atendido, mesmo tendo em vista a clara necessidade.
A justificativa é o baixo número de ampolas, a SES-MT informou por meio de nota que no estado há 409 frascos de soro antiofídico e que a distribuição é realizada para os 16 Hospitais Regionais de Mato Grosso. Segundo a SES, o Hospital Regional de Rondonópolis, que abrange o município de Campo Verde, e a unidade de Cuiabá concentram as maiores quantidades do soro.
A quantidade é considerada extremamente baixa para atender todo o estado, segundo o que a enfermeira Patrícia explicou a reportagem, dependendo do estado de saúde e das comorbidades pré-existentes dos pacientes, eles recebem de 3 a 12 ampolas, mas podem ser mais inclusive.
A explicação sobre o grande número de acidentes com cobras, se deve principalmente ao grande número de moradores nas zonas rurais da cidade, que possuí vários assentamentos populosos, estima-se que somente no Dom Osório mais de 200 famílias residam. Outro fator é a grande incidência de cobras na região, principalmente as jararacas, responsáveis por mais de 80% dos acidentes registrados. “Essas serpentes se escondem facilmente na folhagem, no chão, quando se sentem ameaçadas atacam, por isso é tão importante utilizar os EPI’s quando estiverem circulando nas propriedades”, recomentou a enfermeira.
Esse ano já são sete casos de acidentes com cobras registrados, em Campo Verde, todos eles referem-se a picadas de jararaca, e infelizmente a tendência é que o número aumente, pois mais de 50% dos acidentes registrados na cidade acontecem justamente entre os meses de abril e junho, época em que as serpentes acabam se expondo, devido ao clima.
No caso de acidentes com cobras, a vítima precisa ser conduzida o quanto antes ao hospital de referência para atendimento de acidentes ofídicos mais próximo. Ser atendido no menor tempo possível é crucial para o êxito do tratamento.
Números do Brasil também assustam
Os dados do Ministério da Saúde mostram que há, em média, 28 mil ataques de serpente por ano. Dessas vítimas, 100 morrem.
Segundo o que apuramos, o Ministério da Saúde faz compras mensais de soro dos laboratórios responsáveis pela produção, e cabe ao governo federal repassar esse material aos estados. Desde 1986, toda a produção de antivenenos dos quatro laboratórios nacionais é adquirida pelo Ministério da Saúde, mesmo assim essa produção é insuficiente.
As jararacas são as responsáveis por mais de 90% dos acidentes com cobras no Brasil. O veneno das jararacas é composto por enzimas que degradam a musculatura, causando hemorragias e necrose local.