Dezenas de pessoas participaram da Audiência Pública realizada na manhã desta terça-feira (4) no Fórum de Campo Verde, que abriu espaço para discussões sobre a utilização de agrotóxicos nas lavouras mato-grossenses. O debate, incentivado pelo Comitê Multi-Institucional que reúne órgãos do Judiciário, Ministério Público e do Governo do Estado, foi o primeiro de uma série de audiências que serão realizadas nas diferentes regiões de Mato Grosso onde o agrotóxico é largamente utilizado na agricultura.
Diversas autoridades estiverem presentes, entre eles a vice-presidente do Tribunal Regional do Trabalho de Mato Grosso, desembargadora Maria Beatriz Theodoro, o desembargador Márcio Vidal, a juíza diretora do Fórum de Campo Verde Maria Lúcia Prati, o procurador do trabalho Leomar Daroncho e o procurador de justiça Luiz Alberto Esteves Scaloppe. Também participaram das discussões, Vereadores de Campo Verde, representantes de sindicatos e entidades como Aprosoja e Embrapa, professores, produtores rurais, empresários, técnicos e especialistas da área, além de vários cidadãos campo-verdenses.
✅ Clique aqui para seguir o canal do CliqueF5 no WhatsApp
“A utilização de agrotóxicos é um tema que requer conhecimentos amplos e não pode ser tratado com ‘achismos’. É preciso socializar dados e pesquisas que possibilitem ampliar conhecimentos”, destacou inicialmente o desembargador Márcio Vidal.
Em sua fala, o procurador do trabalho Leomar Daroncho trouxe algumas informações sobre a utilização de agrotóxicos e as consequências dessa aplicação. “No ano passado, o faturamento de agrotóxicos no Brasil chegou a R$ 12 bilhões. Somente em Campo Verde, os herbicidas, inseticidas e fungicidas aplicados na lavoura equivalem ao consumo aproximado de 400 litros de veneno por habitante. Estive em contato com a coordenação do Hospital Municipal e recebi a informação de que aqui ocorrem muitos abortos, partos precoces e crianças que nascem com malformação. Tais acontecimentos podem estar relacionados com a contaminação. Todos são vítimas, tanto os produtores rurais, como os trabalhadores e a população. Acredito que o problema é a falta de conhecimento, por isso a importância de se criar canais de comunicação”, enfatizou o procurador.
O professor doutor, Wanderlei Pignati, que faz pesquisas sobre os impactos dos agrotóxicos há quinze anos, criticou o uso indiscriminado dos defensivos. “Em todas as etapas ao agronegócio, o agrotóxico está presente. Existem leis municipais, estaduais e nacionais que regulamentam e buscam evitar os efeitos nocivos na saúde da população e no meio ambiente. Entretanto, muitos não respeitam, o que acaba causando intoxicação aguda, câncer e malformações. É preciso aderir a alternativas agroecológicas, como já foi feito em países da União Europeia”, explicou o pesquisador.
Biólogo e morador de Campo Verde há 30 anos, Renato Adam Júnior acredita que o problema está ligado a questão econômica. “É claro que não podemos generalizar, mas alguns produtores tentam economizar onde não devem e causam problemas. Utilizam produtos-piratas, não investem em mão-de-obra qualificada e em equipamentos corretos. Sou muito a favor da produtividade, temos que agradecer aos produtores por terem desbravado o município, mas é preciso fazer uma produção com responsabilidade”, enfatizou.
Por outro lado, o engenheiro agrônomo Walter Valverde defendeu a utilização dos agrotóxicos como uma ferramenta para garantir a produção. “Não há motivos para o uso indiscriminado dos defensivos, até porque têm altos custos para o produtor. Os riscos da utilização são calculados. Os produtos não são utilizados aleatoriamente, precisam do aval do Ibama, da Anvisa e do Ministério da Agricultura. Existem muitos investimentos em treinamentos e equipamentos que diminuem a contaminação, além de pesquisas que buscam o produto ideal, com eficiência, segurança, baixa toxidade e com rentabilidade”, informou o engenheiro agrônomo.
Produtor rural e morador de Campo Verde há 26 anos, Alexandre Pedro Schenkel destacou a importância destes eventos. “Precisamos nos informar e discutir para saber se realmente estamos fazendo algo de errado, porque podemos estar sendo vítimas. Mas o problema é que temos poucos dados técnicos da ligação do agrotóxico com doenças e não podemos ficar com ‘achismos ‘ e ‘sensacionalismos’. Nós temos feito tudo conforme as determinações legais. É muito complicado colocar os produtores, empresários, aviações e as outras pessoas ligadas a área como vilões”, ponderou o produtor.
No mesmo sentido, a produtora rural Roseli Muniz Giachini, que veio do município de Cláudia especificamente para participar da Audiência Pública, falou sobre a falta de dados com embasamento. “Somos nós que pagamos a conta, não queremos utilizar produtos defensivos de forma indiscriminada. E claro que também nos preocupamos com o meio ambiente. Mais de 50% da nossa soja é exportada para a União Europeia, onde passam por avaliações e não há restrições quanto aos nossos grãos”, salientou Roseli que também é delegada regional da Aprosoja.
Durante mais de quatro horas, os participantes puderam expor seu ponto de vista e mostraram como o assunto é polêmico.